Mesmo
com sua considerável longevidade, a Banda Ecologia sempre atuou sem a
intervenção direta de empresários para representa-la. Todavia, um dos
personagens mais importantes de toda a sua história, por atuar não somente como
empresário, algo que ocorreu no início dos anos ‘90, mas sendo também grande
amigo e incentivador de sua arte, foi Ricardo de Oliveira.
Convidado
pelo blog para falar um pouco da
banda, ele se pronuncia: “Para ter credibilidade é preciso identificação. Então...
eu sou fã do Raul Seixas desde criança (anos 70). Já no ano de 1981, isto
aflorou e comecei a devorar tudo que se referia a Raul Seixas, me tornando um ‘raulseixista’ incondicional, com grande
admiração e apreço por toda a obra musical, poética, melódica, artística e
performática do Raul.
Ele
em sua forma física nos deixou, mas sua obra, que é poesia, luz e transformação,
nunca passará. Tenho a coleção completa de discos em vinil, todos originais
(não são relançamentos) e estive presente no velório do Raul, passando a noite
toda lá no Anhembi.
Conheci
a Banda Ecologia em 1982 e seus shows duravam cerca de 4 horas de puro prazer,
de alegria, de curtição e tenho que dizer, nunca vi uma briga sequer no
público. Ao contrário, desconhecidos se uniam cantarolando as melodias. Era
pura harmonia, formávamos uma família ‘raulseixista’.
A
banda sempre emanava muita energia em seus shows, cantando todos os sucessos,
além também das prediletas do público que sempre saíam extasiados dos shows.
Cada
um dos componentes da banda tem um ‘Q’ individual do Raul, um improviso, uma
loucura (real), uma quebra de protocolo, uma coisa que só mesmo quem viu e/ou
conheceu o Raul pode sentir e citar. Sabe aquelas coisas de, no meio da música,
parar de cantar e começar a ler um pergaminho, de abrir a camisa e tatuar no
corpo o conteúdo, o espírito da música, que ele mesmo está cantando? Você sente
que não é só algo decorado para cumprir com o contrato, mas sim viver conforme
a própria vontade. Aquilo eu via no Raul como a ‘explosão da vida’, a ‘essência
de ser’, o ‘que querer ser’, como ele cita na música ‘A lei’, ou ‘Caminhos’, e
assim vai em todas as outras, frase por frase.
Vi
muitas vezes os integrantes da Banda Ecologia, individualmente, tendo um
daqueles ‘ataques’ de Raulzito e transformar seu show num espetáculo à parte,
onde o público até se ‘paralisava’ pra ver. Eu via lágrimas em marmanjos, via
ali, atrás da estrutura física gigante de muitos, uma alma pedindo amor,
pedindo justiça, buscando paz. Até porque a musicalidade das poesias do Raul
nos remete a isso, a extravasar o espírito, a dançar do nosso jeito, a gritar
com as forças do pulmão, soltando o brado que nos oprime e este legado é a
força motriz dessa máquina chamada Ecologia e seus integrantes que abraçam a
causa com determinação, orgulho e satisfação.
Houve
uma ocasião que era o aniversário de um ano da morte do Raul, a Banda Ecologia
fez seu tributo no centro de Mauá, exatamente no marco ‘zero’, no relógio do calçadão
onde, segundo as estatísticas da Guarda Civil Municipal da época, haviam mais
de 7.000 pessoas presentes (clique aqui e leia mais). Nesta noite, uma das
músicas cantadas foi ‘Ave Maria da Rua’. Neste momento, a banda chamou o
público a ajoelhar durante a canção. Ninguém ficou em pé. Foi uma cena épica,
uma coisa de fé.
A
Banda Ecologia é um patrimônio da cidade de Mauá (SP) e deve ser creditado a
ela também o fato de que o ‘raulseixismo’
jamais morrerá, pois com muita força de vontade e recursos próprios a banda
leva esta arte ‘raulseixista’ aos ouvidos de todos. E esta arte não tem preço.
Sem
exceção, todos os integrantes, do passado e do presente, sabem porque fazem
parte desta banda-família. Cada instrumentista, em cada acorde, sempre deu o
seu melhor, por isso a Banda Ecologia sobrevive e no palco a transformação é
significativa.
Parabéns
à Banda Ecologia e a seus componentes. Não quero aqui citar nomes para não me
comprometer e me tornar indelicado com ninguém, porém, desejo-lhes os mais
profundos e sinceros votos de sucesso, de paz, de harmonia e principalmente de
alegria que é o fruto que provém deste trabalho.”
Valeu
Ricardo!